Sustentabilidade: Procuram-se talentos verdes

Estudo da Accenture mostra que tem crescido a demanda internacional por profissionais com habilidades para implantar uma política de sustentabilidade

Novas regulamentações, novos investimentos, novas tecnologias e novos valores: esses são os quatro fatores que vêm aumentando tanto a oferta de “talento verde” como a demanda por ele. 

O problema, contudo, é que muitos líderes empresariais ainda não estão preparados para tirar proveito desse novo profissional, que estimula a sustentabilidade dentro das empresas. 

Eles em geral o associam ao que é conhecido comumente como “trabalhos verdes”, vislumbrando-o apenas em setores em que os desafios e as oportunidades associados à sustentabilidade são óbvios, como o de energia. 

No entanto, o talento verde também é necessário em atividades em que as implicações são menos claras, como a área bancária. Felizmente, a forma como as empresas adaptaram suas políticas e práticas de captação e retenção de talentos à revolução da internet pode jogar luz sobre o tema. 

Há apenas uma década, organizações de todos os tipos aprenderam a localizar, atrair e desenvolver novos profissionais cercadas de um contexto de mudança semelhante. 

As que agiram à frente de seus concorrentes ao transformar a gestão de talentos leram os sinais dos tempos: que a internet havia chegado para remodelar os negócios de modo permanente.

Grau semelhante de mudança nas estratégias de gestão de gente promissora é necessário hoje, à medida que as empresas percebem que o foco na sustentatibilidade é uma prioridade tanto do ponto de vista estratégico como operacional.

Quatro impulsionadores do talento verde

É importante compreender os quatro fatores por trás desse iminente boom do talento verde:


• Novas regulamentações

A intervenção crescente do Estado para regulamentar a reação à mudança climática levará a um aumento na demanda por profissionais com capacidades “verdes”. A data-chave foi dezembro de 2009, quando representantes de diversos governos se reuniram em Copenhague para negociar um acordo internacional sobre clima que substituísse o Protocolo de Kyoto.

Apesar dos avanços modestos, ficou claro que qualquer acordo no futuro deve levar a um cenário, possivelmente em 2012, em que o carbono seja um item de custo para as empresas em muitos setores de atividade. Respaldadas pelas legislações locais, essas mudanças gerarão demanda por novas capacidades, conforme as empresas forem compelidas a se adaptar.

O acordo da União Europeia (UE) sobre emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, passou a exigir que grandes emissores de dióxido de carbono (CO2) dentro da UE monitorem e reportem suas emissões anualmente. Essa lei, ao mesmo tempo, requer que os funcionários se responsabilizem pelas emissões de CO2 também.

• Novos investimentos

Governos de todo o mundo estão gastando bilhões de dólares na tentativa de compensar o gap de investimentos percebido no setor privado depois da recessão econômica. Os chamados pacotes de incentivos fiscais possuem uma dimensão verde: o estímulo para o desenvolvimento de energia verde alcançou US$ 512 bilhões.

O pacote norte-americano, por exemplo, direciona mais de US$ 94 bilhões para iniciativas ecológicas, enquanto mais de 80% do estímulo fiscal da Coreia do Sul é dedicado a investimentos na área ambiental.
Esses investimentos, alguns deles de larga escala, criarão demanda por funcionários com capacidades verdes, pessoas capazes de projetar a turbina de vento da próxima geração, conduzir auditorias sobre eficiência no uso de energia, erguer a infraestrutura do futuro ou oferecer hipotecas verdes (por exemplo, permitindo que os compradores de imóveis residenciais se candidatem a financiamentos conforme seu potencial de economizar luz e água).

As empresas com planos de desenvolver e lançar produtos e serviços verdes estão competindo por recursos financeiros: a Johnson Controls buscou mais de US$ 70 bilhões para grande variedade de projetos verdes no pacote de estímulo do governo dos Estados Unidos. 

• Novas tecnologias

É natural que novas tecnologias verdes aumentem a necessidade de talentos com capacidades verdes. Algumas tecnologias levarão ao desenvolvimento da próxima geração de fontes de energia limpa; outras surgirão para servir às empresas e aos consumidores verdes. Esses mercados não estarão limitados ao mundo ocidental. Na China, um grande mercado para carros mais amigáveis do ponto de vista ambiental está florescendo.

O governo planeja gastar cerca de US$ 29,24 bilhões nos próximos dois a três anos para estimular o mercado de veículos movidos a combustíveis alternativos.
Em resposta, as empresas chinesas têm investido pesadamente em tecnologias de automóveis verdes, aproveitando as capacidades verdes de seus funcionários.

E esses esforços já estão dando resultado: no Shanghai Auto Show de 2009, as fabricantes chinesas Chery, Geely, SAIC e Changan apresentaram novos carros ecológicos, e 20 veículos híbridos foram mostrados ao todo na exposição. Espera-se que a China eleve sua capacidade anual de produção de carros e ônibus híbridos ou totalmente elétricos para 500 mil no final de 2011, partindo de meros 2,1 mil em 2008.

• Novos valores

Mais e mais pessoas estão sinalizando que as empresas para as quais trabalham, e os produtos que compram, devem demonstrar preocupação com o meio ambiente. Em uma pesquisa da Accenture realizada em 2007, 89% dos consumidores afirmaram estar prestes a mudar para fornecedores de energia que oferecessem produtos e serviços que ajudassem a reduzir as emissões de carbono e 64% indicaram sua disposição de pagar mais por produtos e serviços que proporcionassem isso.

As evidências são de que os consumidores continuam interessados em produtos verdes, em que pese a retração econômica iniciada em 2008. Quatro em cinco consumidores norte-americanos recentemente
mostraram disposição para comprar produtos e serviços verdes, apesar da recessão. Em fevereiro de 2009, em pesquisa realizada no Reino Unido, 87% dos entrevistados afirmaram que as preocupações com o meio ambiente influenciam suas decisões de compra, “da mesma forma que há um ano” ou “ainda mais”.

Consumidores também são profissionais de empresas e começam a associar “boa empresa” com “empresa sustentável” –e as pessoas gostam de trabalhar para os “mocinhos”. Por exemplo: em 2007, em uma pesquisa da Ipsos Mori em 15 países (China, Brasil e Rússia, inclusive), mais de 80% dos entrevistados indicaram sua preferência por trabalhar para uma empresa com boa reputação por sua responsabilidade ambiental.

Quatro atividades identificadoras

Alguns executivos e organizações bem estabelecidas eram céticos sobre a internet. Outras empresas eram simplesmente lentas e não souberam como reagir. A Compaq continuou a vender seus computadores por meio de distribuidores, enquanto o modelo de vendas diretas da Dell conquistou grande parte do mercado.

Como Michael Dell, Jeff Bezos captou o potencial da internet relativamente cedo. O momento decisivo para ele chegou em 1994, quando percebeu que o uso da internet estava crescendo 2.300% por mês.


Fonte:
O estudo é de John Glen, Chris Hilson e Eric Lowitt, consultores da Accenture ligados ao Institute for High Performance, sediado em Londres, Reino Unido.
Fonte: © Business Strategy Review
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HSM Management – Edição 81

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